A casa construída há várias décadas em uma rua estreita e pequena de um dos bairros mais antigos da cidade de São Paulo com certeza já passou por diferentes transformações até virar apenas um simples depósito – sua função social nos últimos anos. Com data marcada para ser demolida, busca-se uma última apropriação, experimentando possibilidades que ainda não a habitaram.

Para iniciar esse processo de ativação – que durará até a chegada de 2015 – foram convidados três artistas para pensar o espaço através de um exercício relacional que propusesse ideias de ocupação, discutindo ao mesmo tempo sobre seus possíveis usos e sua condição transitória. Os trabalhos de Anton Steenbock, Janaina Wagner e Leonardo Stroka foram concebidos ou repensados especificamente para este contexto e tomam a própria casa como suporte, para intervir com outros significados no que vinha sendo tomado como obsoleto.

Combater a apatia dessa construção residencial com uma mostra corresponde a um desafio que só pode ser superado se o diálogo com o campo expositivo se der com franqueza. Nesse sentido, evitou-se afastá-lo em direção ao neutro e imaculado. De igual maneira, foi proposto aos participantes um norte que não se impõe com aborrecidas algemas teóricas: tratando-se de uma exposição coletiva, composta por artistas com formações, interesses, pesquisas e produções heterogêneas, é natural que o terreno narrativo fosse sempre livre. Estimulou-se então que cada um subvertesse os cantos da casa por execução autônoma, sem que se buscasse uma aproximação visual ou formal entre os resultados. A coesão veio por penetrarem por ali com compartilhado vigor, em um movimento de abertura capaz de lançar o lugar em novos riscos.

Germano Dushá, curador.